domingo, 14 de outubro de 2012

Sustentabilidade agrícola é o caminho para o futuro

Aumentar a produtividade sem tomar mais terras já é uma realidade no Brasil. Conseguimos produzir, atualmente, 160 milhões de toneladas de grãos em cerca de 200 milhões de hectares, uma área ocupada pela agricultura e pecuária. Mas pesquisadores da Embrapa garantem que esse número pode ser dobrado, sem que para isso precisemos prejudicar o meio ambiente.

"Os sistemas de produção integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária (iLP) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), se adotados em todas as regiões produtivas, permitem recuperar as áreas de pastagem que já estão com algum nível de degradação, elevando a produtividade tanto de grãos e fibras quanto de produção de carne", afirma Euclides Maranho, analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste.

Na mesma área em que hoje se produz cerca de 160 milhões de toneladas, podem-se obter seguramente 300 milhões de toneladas. Para tanto, pontua o pesquisador, é necessária a criação de uma política agrícola de longo prazo, com planejamento, considerando cenários, oportunidades, ameaças e, principalmente, definindo estratégias que deverão ser adotadas de forma articulada, visando ao alcance do objetivo traçado.

Modernização do setor
O agricultor está atento às modernas inovações e, dentro de suas possibilidades, moderniza suas máquinas, adota novas tecnologias, mesmo sendo penoso e pairando dúvidas quanto ao retorno de seus investimentos.

Lado a lado com essa modernização, o analista de pesquisa na área de Economia Rural da Embrapa Agropecuária Oeste, Alceu Richetti, lembra que a pesquisa tem ajudado os produtores a produzir mais em menor área. "Para isso, basta observar a produtividade da soja no Brasil, que em 1990 era de 1.732 kg/ha, e hoje é de 2.660 kg/ha, um acréscimo de 53,6%. Isso graças à introdução de cultivares de soja adaptadas às condições locais e mais produtivas, a adequadas técnicas de cultivo e de manejo de pragas e à modernização dos métodos de gestão da propriedade rural", enumera.

Ainda como técnicas para produzir mais com menos recursos, Euclides Maranho destaca os sistemas de produção integrados, a realização da inoculação e o tratamento de sementes, além da adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

Análise de perto
A sustentabilidade não pode ser analisada só pela agricultura. "Precisamos entender que o produtor só produz mais porque do outro lado existe uma demanda cada vez mais audaciosa. A agricultura carrega um fardo muito pesado, o de que é a que polui, a que destrói, e assim por diante. Pelo que me consta, a grande maioria dos rios são poluídos no setor urbano; as grandes cidades não preservam a mata ciliar dos rios, ou será que São Paulo ou Porto Alegre, por exemplo, preservam a mata ciliar dos rios Tietê ou Guaíba? O leite, por exemplo, sai da unidade de produção rural e chega até a cidade em grandes tanques, que são reutilizáveis. Posteriormente, o produto sofre o processo de agroindustrialização, sendo embalado em caixas ou outras embalagens que, na sua grande maioria, após o consumo do produto, vão para os lixões ou o fundo do leito de córregos e rios, e algumas demoram mais de cem anos para serem deterioradas pelo meio ambiente", desabafa Maranho.

Obviamente, completa, se a sustentabilidade puder ser construída a partir de um pensamento comum, de que todos participem, a agricultura será uma das grandes beneficiadas, já que em seus processos de produção podem ser inseridas tecnologias ambientalmente corretas - as matas ciliares e APPs previstas no novo Código Florestal, após aprovado, com certeza serão repostas e preservadas.

Bom para o produtor e para o meio ambiente
Importante lembrar que os agricultores que praticam a agricultura com baixa emissão de gás carbônico e, principalmente, que desenvolvem atividades que promovem o sequestro de carbono, podem ter uma renda alternativa na venda dos créditos de carbono. "Assim, se todos os processos de produção, agregação de valores, distribuição e consumo dos alimentos forem em busca da sustentabilidade, com certeza não só a agricultura, mas todos os seres que habitam este planeta serão os grandes beneficiados", avalia Euclides Maranho.

Para ele, por uma questão óbvia, a região Norte do Brasil, onde está a Amazônia, é aquela que mais está sendo questionada quanto à sustentabilidade. Nessa região, já houve ações de sequestro de animais criados em áreas de APPs ou reservas legais.

O Código Florestal prevê que 80% da área seja preservada com a vegetação nativa, além de considerar que grandes áreas são preservadas com parques nacionais ou reservas indígenas. No entanto, pela maior densidade demográfica e pela alta atividade das regiões Sul e Sudeste, existem bons exemplos de ações desenvolvidas com o intuito de promover a agricultura sustentável, a exemplo do crescente aproveitamento de resíduos agroindustriais para a cogeração de energia; do aumento considerável do sistema de plantio direto, ou do plantio com o mínimo de revolvimento do solo; da redução de utilização de nitrogênio na agricultura devido à prática da inoculação de organismos que promovem a fixação de nitrogênio atmosférico, entre outras.

A região Centro-Oeste, que é responsável pela produção de um grande volume de produtos da agricultura, por ser um bioma vulnerável devido a grandes estiagens, à fragilidade de sua vegetação nativa e dos solos, na sua grande maioria com menores teores de argila, o que facilita a rápida exaustão de sua capacidade produtiva, precisa de algumas ações no sentido de definir até quando os recursos naturais podem oferecer condições para a obtenção de resultados tão significativos quanto os que estão ocorrendo atualmente.

O pesquisador Euclides Maranho não tem dúvidas de que ainda existem muitas áreas a serem inseridas no processo, o que deverá proporcionar um crescimento enorme do volume de produção.

Fonte: Revista Campo & Negócios.

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