quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Cientistas descobrem um novo tipo de nuvem no céu

Encontrada com ajuda da internet, variedade é a primeira identificada em meio século.
Olhar para o céu anda mais divertido para amantes e estudiosos das nuvens. Todos em busca de mais uma imagem daquela que pode se tornar a primeira nova variedade descrita desde 1951. Batizada de undulatus asperatus (onda agitada), a nuvem foi registrada pela primeira vez em 2006 em Iowa, nos EUA. O autor da foto enviou-a para a Cloud Appreciation Society (CAS), e, de lá para cá, "a coisa virou viral, recebemos muitas outras imagens de vários locais do mundo, inclusive do Brasil", relata Gavin Pretor-Pinney, fundador da sociedade britânica dos apreciadores de nuvens.

Pretor-Pinney e outros especialistas vêm fazendo lobby para que a undulatus seja reconhecida oficialmente, o que pode acontecer no fim deste mês, após congresso, em Genebra, da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

"A gente quer que eles atualizem o Atlas Internacional das Nuvens, que não é modificado desde 1975. Se a undulatus for incluída, será o reconhecimento da "nuvem do povo na era virtual", já que ela foi registrada por pessoas comuns e descoberta por causa da internet. É uma forma moderna de fazer ciência", anima-se Pretor-Pinney, autor de "Guia do observador de nuvens" (Intrínseca).

O parecer da Sociedade Real de Meteorologia britânica já foi favorável - após trabalho da CAS com cientistas da Universidade de Reading, na Inglaterra. Um deles, o meteorologista Graeme Anderson, elaborou uma tese sobre as condições para a formação da nuvem. Conclui que são as semelhantes às do tipo conhecido como mammatus (uma nuvem associada a tempestades, do gênero estratocúmulo), mas com ventos mais intensos moldando o vapor d'água em redemoinhos ondulados. A nova nuvem se diferencia das demais pelo formato e a velocidade com que se move, promovendo ondulações.

"Pode ter algo a ver com locais frios também", diz o meteorologista gaúcho Bruno Ribeiro, que faz mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e registrou, em fotos e vídeos, uma undulatus asperatus no início do ano em Pedro Osório, no Rio Grande do Sul. "Fiquei mais de meia hora gravando, a nuvem passou pela cidade por cerca de uma hora, bem ondulada e se mexendo muito, antes de ir em direção ao mar. Logo depois passou uma frente fria", conta.

Além de Iowa e Rio Grande do Sul, a nuvem já foi registrada em países como Escócia, Noruega e França. Mário Festa, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP), já viu a nuvem em São Paulo.

"Ela impressiona pelo tamanho, é uma nuvem baixa, dá uma sensação assustadora e se move rapidamente. Tem gente que defende que ela seria de um novo gênero. Mas tenho dúvidas, acho que é mesmo uma variedade de estratocúmulo como é a mammatus", acredita o meteorologista, dizendo, no entanto, entender a comoção em torno da nova nuvem porque "ela chama atenção e aparece raramente".

O cientista da USP ainda não conseguiu associá-la a nenhum fenômeno climático específico. Segundo ele, a ondulação se acentuaria mais graças à intensidade dos ventos. Como as nuvens são a principal fonte de estudos da atmosfera - dada a sua relação com o vapor que sobe e condensa -, o eventual reconhecimento de um novo tipo pela OMM seria de enorme importância para a ciência.

De acordo com a organização, existem dez gêneros principais de nuvens, subdivididos em variedades, dependendo de suas formas e estruturas internas. A mais conhecida é a cúmulo, vista em dias de tempo claro. Já a cúmulonimbo, mais densa e potente, é temida por causar tempestades.

A CAS possui mais de 30 mil integrantes e lançará, no ano que vem, um aplicativo de celular e tablet pelo qual a foto tirada de um observador será diretamente enviada à Universidade de Reading para análise. "A observação das nuvens é um importante meio de documentar efeitos de mudanças climáticas no céu. Nuvens podem oferecer respostas sobre temperatura e tempestades nos próximos anos", diz Pretor-Pinney. Fonte: Jornal da Ciência.

0 comentários:

Postar um comentário