sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Agricultura sustentável de sucesso na zona seca da Índia

Estreitos caminhos empedrados separam as fileiras de casas de barro, onde podem ser vistas algumas cabras amaradas a postes de madeira nesta aldeia que fica no profundo da região de Bundelkhand, centro da Índia, assolada pela seca.

De acentuada beleza e profundas quebradas, Bundelkhand, que ocupa os Estados de Uttar Pradesh e Madhya Pradesh, sofre muitos problemas derivados de atividades humanas mal geridas que só pioraram um contexto climático complicado por prolongadas secas e chuvas escassas.

Na década de 1960, como medida para conservar o solo, foram lançadas do ar sementes de algarobeira (Prosopis juliflora), originárias da América. Mas a espécie estrangeira acabou invadindo e matando os arbustos nativos e, como consequência, a água correu para os barrancos convertendo vastas zonas em campos desertos.

Além disso, as autoridades promoveram de forma descuidada cultivos com importantes requerimentos hídricos, como a menta, fazendo com que os agricultores ricos cavassem poços profundos para extrair água sem considerar a necessidade de recarga. O resultado foi uma desastrosa queda das reservas subterrâneas do recurso.

Os agricultores pobres sofreram o esgotamento hídrico, somado aos caducos sistemas de destruição e armazenamento, de água da chuva. Agora a seca é um fenômeno comum na região e menos de metade das terras cultiváveis podem ser utilizadas, o que coloca em risco 50 milhões de pessoas que habitam a região e que dependem da agricultura. “Há um consumo enorme de água em uma área que sofre uma crise hídrica”, disse Anil Singh, coordenador da Parmarth, uma organização dedicada a recuperar sistemas tradicionais de irrigação e cultivo em comunidades pobres dos barrancos de Bundelkhand.

Na aldeia de Tajpura e como se desconhecesse as duras condições da região, Mamtadevi, de 36 anos, serve um fumegante chappatis (pão sem levedura) untado com manteiga clarificada e uma salada verde fresca com berinjela defumada, batata cozida, tomate fresco e pimenta. “As verduras são saborosas porque foram cultivadas de forma sustentável e sem químicos”, afirmou.

Mamtadevi e seu marido, Ajan Singh, estiveram entre os primeiros que adotaram a “agricultura sustentável com poucos insumos externos” (Leisa, por sua sigla em inglês) proposta pela Parmarth, que lhes permite ter uma boa situação apesar da escassez de chuva e do aumento das temperaturas médias.

A Leisa inclui práticas de recuperação do nitrogênio e outros nutrientes das plantas, e objetiva manter as pragas sob controle mediante métodos naturais, preservar condições ideais do solo e garantir que os agricultores estejam conscientes de seu meio ambiente e do valor de cuidar dos ecossistemas.

A solidez do método se observa na frescura dos cultivos de Ajan Singh. Na conservação da biodiversidade ao usar sementes autóctones resistentes e evitar químicos para manter a saúde do solo. Singh também pode abater os caprichos do clima e da seca deste ano, derivado da falta de chuvas de monção, que não o atemorizam e nem os agricultores que adotaram a Leisa.

Bhartendu Prakash, membro do comitê diretor da Associação de Agricultores Orgânicos da Índia (Ofai) e responsável pelo escritório para a zona norte localizado em Bundelkhand, observou que os cultivos da Leisa foram os que menos sentiram as geadas que atingiram a região no último inverno boreal.

A Parmarth ajudou a comunidade a projetar os terrenos para escorrer a água da chuva e armazená-la, bem com construir poços para irrigação. Os voluntários da organização também ensinaram os produtores do programa a fabricar húmus de minhoca e a criar armadilhas de feronômios para insetos. A maioria dos camponeses já tinha seus próprios métodos para fabricar inseticidas orgânicos, em geral uma mistura de folhas de nim e alho embebidas em soro de leite de búfala.

“Mas, antes das armadilhas de feronômios o roçado era feito a cada três dias, mas agora basta uma vez por semana”, disse Mamtadevi. Em 2009, as verduras do casal eram tão famosas que vendiam produtos no mercado local, a dez quilômetros de distância, a um preço maior do que o normal, o que lhes permitia ganhar quase 80 mil rúpias (US$ 1,8 mil) por ano. Três anos depois, Ajan Singh comprou outra “bigha” (quase nove mil metros quadrados) de terra. Agora vende sua produção em dois mercados, e também leite de cinco búfalas que comprou com seus ganhos.

Atualmente, 15 agricultores de Tajpura usam os mesmos métodos de Ajan. Além disso, as mulheres se uniram para abrir uma conta de poupança e crédito para gerar alternativas de subsistência com a criação de animais. Também têm um banco de sementes, que lhes permite vender o excedente no mercado e oferecer algumas às famílias que atravessam momentos difíceis.

“Agora tentamos vincular a comunidade com programas estatais, como para comprar roçadeiras, e obter alguns benefícios do pacote de alívio para Bundelkhand, que ajuda com a questão da seca”, disse Anil Singh, integrante da Parmarth. Criado em 2009, por três anos, pelo governo federal, o pacote de US$ 1,5 bilhão ajudou a obtenção de água, a adequada utilização dos sistemas fluviais, dos canais de irrigação e dos cursos de água.

Como os fundos estão acabando, Bundelkhand precisa de mais apoio para os métodos sustentáveis de cultivo. Rajesh Krishnan, ativista do Greenpeace Índia, é otimista sobre a possibilidade de o governo continuar promovendo a agricultura sustentável bem como de que esta sobreviva graças à demanda por produtos orgânicos. Também prevê que a agricultura sustentável recebe fundos do 12º plano quinquenal da Índia, que será divulgado em novembro.

Fonte: Envolverde.

0 comentários:

Postar um comentário